Suponhamos
agora que A tem duas faces sem pintas e quatro com 4 pintas, o que convencionamos
descrever por A = (0, 0, 4, 4, 4, 4) e, com notação análoga,
suponhamos B = (3, 3, 3, 3, 3, 3). Em cada par de lançamentos
(de A seguido de B) o jogo nunca empata, e há 36 pares (igualmente
prováveis) de faces possíveis (em cada par de lançamentos),
mas os pares de números obtidos são apenas dois: (0, 3),
em que ganha B e (4, 3), em que ganha A. Ora, dos 36 casos possíveis,
12 correspondem a (0, 3) e 24 a (4, 3). Portanto, a probabilidade de
B ganhar é 12/36 = 1/3 e a de A ganhar é o dobro: 24/36
= 2/3. Se B jogar com um terceiro dado C = (2, 2, 2, 2, 6, 6), também
nunca há empate, B ganha a C em 24 dos 36 casos e C ganha a B
nos outros 12: podemos traduzir a situação, dizendo que
B é duas vezes melhor do que C. Deixamos ao leitor a verificação
de que, tomando como quarto dado D = (1, 1, 1, 5, 5, 5), C é
duas vezes melhor do que D. (Para controlar ou evitar as contas, pode
usar uma calculadora de probabilidades).
Chegados a este ponto, e encarando apenas
as observações feitas, parece que, relativamente à
questão formulada no início do artigo, é natural
conjeturar que, no caso dos dados A, B, C, D acima definidos, a resposta
é clara: o dado A é o melhor dos quatro, uma vez que é
melhor do que B, este é melhor do que C e C é melhor do
que D. Em particular, se dois jogadores decidirem jogar e, antes de
começarem, tiverem a oportunidade de escolher o dado que preferem
(entre A, B, C e D), parece que o primeiro parte em vantagem, bastando-lhe
escolher o dado A.
O termo “conjecturar” usado acima
em vez de “concluir” pode parecer de uma prudência
excessiva. Mas, se o leitor fizer a comparação direta
entre A e D, poderá verificar que A só ganha nos
12 pares correspondentes a (4,1), perdendo nos restantes 24 (=
6 + 6 + 12) correspondentes a (0,1), (0,5) e (4,5). Quer dizer:
o dado D, que devia ser muito (? 8 vezes) pior do que A, é
na verdade duas vezes melhor do que ele... Voltemos à conjectura:
subjacente à sua formulação estava a ideia,
que acaba de se verificar ser errada, de que a relação
entre dados, traduzida por “melhor do que” seria transitiva. |

Fig 3 |
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